Prefeito de Balneário morto pela ditadura militar e rua de Camboriú que homenageia o golpe de 1964

Com o filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, diversos debates no Brasil voltaram à tona sobre a ditadura militar, que teve início em março de 1964. Em Santa Catarina, assim como em outros estados e cidades do país, houve registros de assassinatos forjados e premeditados por militares da época.

Higino João Pio
O primeiro prefeito de Balneário Camboriú, Higino João Pio, foi preso na Quarta-feira de Cinzas, em 19 de fevereiro de 1969, sem justificativas aparentes. Após duas semanas encarcerado, no dia 3 de março, João foi encontrado morto em uma das celas da Marinha, em Florianópolis.

Por mais de cinco décadas, a certidão de óbito descreveu a causa da morte como suicídio. Apenas agora, após a mobilização causada pelo filme e a determinação federal, o documento passará a registrar a verdadeira causa do falecimento do ex-prefeito: morto pelo Estado brasileiro durante a ditadura militar.

Higino Pio é uma das 434 pessoas assassinadas ou desaparecidas pelo regime militar no Brasil, sendo o único morto em Santa Catarina.

Conexão com Camboriú
Em 1964, quando Balneário Camboriú se desvinculou de Camboriú, Pio, natural de Itapema, foi eleito o primeiro prefeito da nova cidade, em 1965, pelo Partido Social Democrático (PSD).

Após quatro anos no cargo, sua prisão foi justificada por uma suposta corrupção na administração municipal, acusações que nunca foram comprovadas.

Atualmente, o ex-prefeito dá nome a escolas, praças e ruas. No entanto, em Camboriú, ainda há uma via no centro da cidade chamada “Rua Trinta e Um de Março”, data que marca o aniversário do golpe militar de 1964. Diferentemente de sua cidade-filha, Balneário Camboriú, que reconhece a memória de Higino João Pio, Camboriú parece ter ignorado ou esquecido as marcas e consequências que esse período deixou para o estado e para as duas cidades.

O regime, que durou até 1985, foi marcado pela supressão de direitos humanos e constitucionais, censura e perseguição política.

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