Falta de Ações e Divulgação
Embora a Lei nº 10.639/2003 exija o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, as iniciativas no município têm sido pontuais e pouco divulgadas. A Secretaria de Educação citou projetos como o “Ayê Nagô – Nossas Raízes” e murais artísticos, mas a falta de menções nas redes sociais oficiais da Prefeitura sugere que o impacto dessas ações é limitado. Um único informe sobre o tema foi publicado, e, coincidentemente, apenas após questionamentos diretos feitos pela redação.
A Secretaria de Cultura, por sua vez, não respondeu às tentativas de contato. A única ação mencionada no site oficial-tardes de contação de histórias-recebeu menos de dez visualizações, exemplificando a ausência de estratégias eficazes de divulgação.
David Rocha, estudante de pedagogia, autodeclarado negro, também apontou a falta de iniciativas consistentes fora do ambiente escolar .”Eu não conheço nenhuma ação específica do município direcionada à conscientização das pautas antirracistas ou do movimento negro, salvo as da rede escolar, que costumam se evidenciar mais no mês de novembro. Inclusive, lembro da polêmica do ano passado sobre o ‘Dia Mundial da Consciência Branca’, proposta por um vereador local. Isso mostra o quanto ainda falta reconhecimento sobre a importância da luta antirracista.”
Uma Comunidade Fragmentada
Camboriú abriga 1.025 pessoas que se identificam como negras e 5.704 como pardas, segundo dados do Cadastro Único. No entanto, David destaca a falta de integração da comunidade negra no município, o que enfraquece a percepção pública sobre as pautas raciais. “Embora existam esforços individuais, ainda falta um senso de luta coletiva. Muitas vezes me sinto só, mesmo sabendo que há outras pessoas pretas buscando comunidade para discutir e combater o racismo.”
A presença significativa de haitianos na região, por exemplo, poderia enriquecer as iniciativas culturais e sociais, mas permanece subutilizada pelas políticas públicas locais.
Educação e Resistência
Apesar da ausência de suporte governamental amplo, professores e escolas desempenham um papel fundamental na promoção da consciência negra. Contudo, como apontou David, é essencial que o debate sobre racismo e cultura afro-brasileira ultrapasse a sala de aula e as comemorações de novembro. “A educação precisa ir além da escravidão nas aulas de história ou das atividades sobre Zumbi dos Palmares no dia 20 de novembro. É preciso integrar a cultura afro-brasileira em todos os níveis da educação, conforme a lei exige.”
Oportunidades de Mudança
Para superar esses desafios, a criação de um coletivo que reúna as frentes antirracistas de Camboriú poderia ser um passo essencial. Além disso, ações que valorizem a diversidade étnica do município, como eventos culturais que integrem brasileiros e migrantes haitianos, ajudariam a fortalecer a pauta.
No entanto, a responsabilidade maior recai sobre a gestão pública. É fundamental que a Prefeitura de Camboriú não apenas cumpra sua obrigação de implementar políticas de equidade racial, mas também amplie suas ações para alcançar toda a sociedade, com divulgação eficaz e contínua.
O Dia da Consciência Negra é um marco da resistência histórica, mas não pode ser reduzido a uma data simbólica ou a iniciativas de fachada. Camboriú precisa olhar para sua diversidade e agir de forma concreta para transformar reflexão em ação.
Por: Ycla Araujo