Além da retificação na certidão, Higino João Pio receberá um sepultamento com honras de Estado, cerimônia que não ocorreu em 1969 devido à interferência militar. Seus restos mortais serão transferidos de Itajaí para Balneário Camboriú em 20 de julho, aniversário da cidade que ele administrou como primeiro prefeito eleito. O cortejo contará com autoridades, forças de segurança e ex-prefeitos, marcando simbolicamente a devolução da dignidade ao político. O reconhecimento ocorre em meio à repercussão do filme Ainda Estou Aqui, que denuncia os crimes da ditadura e reacendeu o debate sobre as vítimas do regime.
Higino foi um dos 434 mortos ou desaparecidos pela ditadura militar no Brasil e o único em Santa Catarina. Ele foi preso sob acusações de corrupção que nunca foram comprovadas, sendo torturado e assassinado devido à sua proximidade com o ex-presidente João Goulart e disputas políticas locais. O relatório da Comissão da Verdade revelou que seu corpo foi pendurado com um arame no pescoço para simular suicídio, em uma tentativa de encobrir o crime. Apesar da farsa ter sido desmascarada, nenhuma punição foi aplicada aos responsáveis. Em 2018, o Ministério Público Federal denunciou seis pessoas pelo crime, mas o caso foi arquivado em 2020 sob a justificativa da Lei da Anistia.
Mesmo com a impunidade na esfera criminal, os descendentes de Higino seguem buscando justiça por meio de uma ação indenizatória contra a União. A Justiça Federal já reconheceu o direito da família à reparação, e o caso agora aguarda análise em instâncias superiores. A retificação da certidão de óbito é um marco no resgate da verdade histórica, corrigindo oficialmente uma mentira sustentada por mais de meio século.